Maleabilidade moral

quinta-feira, 24 de setembro de 2009



Sempre tive problemas com o clichê da profissão de advogado.
Uma profissão cuja função seria tirar da cadeia corruptos, estupradores e ladrões; defender grandes corporações contra o Zé Ninguém (e vice-versa, é verdade).

Em uma aula de cursinho há muito tempo, um professor propôs a seguinte questão:
- Uma certa pessoa que não está na posse de algum bem reclama que o atual possuidor não é o proprietário legítimo; o possuidor alega que detém todos os documentos e que comprou de um terceiro tal bem.
Quem está com a razão? A resposta é: DEPENDE. Depende de quem é o seu cliente.
Essa falta de uma definição entre Certo e Errado me incomodava.
Essa maleabilidade moral confundia-se com descaramento.

O clichê de advogado existe e ele é DEPRAMÁVEL. Conheci um por estes dias.
Imagine um advogadozinho de merda, que não sabe argumentar, inventa Princípios de Direito, sempre que contrariado eleva a voz, e a única coisa que lhe interessa é dinheiro. Ele tenta fingir que quer mais do que o numerário mas não engana quem o enxerga. Engana, sim, às pessoas que não conhecem o Direito (essa é uma das características da linguagem técnica: excluir os leigos) e desta forma tenta ganhar discussões no grito, no terrorismo.

Por causa disso, de pessoas assim, da possibilidade de usar o Direito dessa forma, que me mantive afastado dessa área do conhecimento por tanto tempo.

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11 comentários:

Luana Harumi disse...

E o que te fez aproximar-se agora dessa área?

leandro disse...

Talvez o fato da culpa em si não ser do direito e sim das pessoas que o manipulam.

decio h disse...

Sim. Vi que o Direito possui algo mais a oferecer do que este uso pobre que se faz dele.

Por outro lado, ao olhar o Direito profundamente, descobri fatos ainda piores sobre ele. O meu curso de Direito foi estragado no primeiro ano. Tem a ver com Marx.

leandro disse...

Marx é o cara.

Anônimo disse...

Mesmo me mantendo confiante por acreditar que o Direito tem algo muito diferente do que essa mediocridade que se enxerga, me desencanto diariamente. Em primeiro lugar, com o ambiente acadêmico no geral, salvo algumas raríssimas exceções - a faculdade, seu conteúdo medíocre e seus professores e, principalmente, alunos medíocres; em segundo lugar, ao entrar em contato com profissionais medíocres como esse que você descreveu acima.
Acredito, sim, que a culpa é das pessoas, e isso me fortalece, mas não por muito tempo: me sinto sozinha, utópica, em busca desse quê diferenciado. Penso, às vezes, que fazer a minha parte já seria fazer tudo o que está ao meu alcance e isso bastaria para aquietar minha consciência. Nesse momento, sossego minha angústia, mas no segundo seguinte penso que, sozinha, não conseguirei fazer nada relevantemente diferente e, fazer o que está ao meu alcance já me parece insuficiente pra tranquilizar a minha consciência.
Mesmo assim, ainda não consegui me distanciar do Direito. Não seie xatamete o por quê, mas arrisco em dizer que ainda sou uma pessoa fraca, mas essa é uma outra questão. É aquela fraqueza que se relaciona ao sujeito sonhador. E aqui eu diria que John Lennon é o cara. (rs)

Anônimo disse...

Entro no Orkut e leio "Sorte de hoje: Para conquistar boas coisas, precisamos sonhar e agir"

:)

decio h disse...

Não saltar fora do Direito...
Eu penso em conhecer a ferramenta para utilizá-la melhor. Há algum tempo não acredito que seja possível melhorar o mundo, mas já quis fazer isso. Cada vez mais os interesses são mais intrincados, um emaranhado que me cansa.
Sempre estou redefinindo as minhas prioridades.
Encontrei alguns poucos alunos não medíocres no Direito em SBC. Na SF tem um pouco mais, mas a questão ideológica fica à flor da pele (muita juventude e energia).
John Lennon é o cara, mas Imagine é uma música comunista, marxista: Marx é o cara.

Luana Harumi disse...

Bom, eu me abstenho de comentar já que não larguei o Direito por questões morais..huahua :)

Anônimo disse...

John Lennon vence Marx, pelo poesia! Mas não quero falar em vencedores e derrotados: o maniqueísmo há tempos deu lugar à dialética em minha vida! E foi essa maldita que tirou o meu sossego...
Talvez eu esteja relutando em aceitar que não é possível melhorar o mundo.
Estou cansada, de verdade. Mas deve ser porque ainda tenho que estudar Filosofia Jurídica. :)

decio h disse...

Tb não classifico dessa forma, eu diria que são incomparáveis entre si.
Ressaltei que Lennon se inspirou em Marx.
Bons estudos. Filosofia jurídica é legal, mas tende a levar a um beco meio que sem saída.

Anônimo disse...

Esse tal beco sem saída que me sufoca!
E eu concordo que Marx seja o cara. E Lennon também, cada um a seu modo... A verdade é que eu estava só enchendo a paciência. ;]

* Adoro esse blog! \0/

Voltarei a ler agora. :)

 
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