Turma 182

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ou, a turma dos "manos"...

Vejamos os dados:

















Escolhendo a variável "candidatos que cursaram o ensino médio em escola particular":
- inscritos na FUVEST em azul;
- matriculados em DIREITO em vermelho, temos o gráfico acima, e a tabela abaixo.
Desconsiderando 1992, em que há um comportamento estranho da curva por alguma razão que desconheço, vemos que há um constante aumento da porcentagem de alunos matriculados até 2006, com um pico de 87,3%. Após esse ano, há uma queda nessa porcentagem, culminando em 70,1% em 2009, apesar do aumento percentual do número de inscritos.


É plausível se creditar uma boa parcela das causas dessa situação às políticas de bônus para os alunos que cursaram o ensino médio em escola pública. Como exemplo, na FUVEST 2008, esse acréscimo era de 3%, tendo sido aumentado até 9% na FUVEST 2009. Em números absolutos, em 2008, 438 candidatos que cursaram o ensino médio em escola particular se matricularam. Em 2009, foram 392, uma diferença de 46 matriculados de um ano para o outro (para menos). Essa diferença equivale a 9,2% das vagas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Apesar das demais variáveis possíveis, a política de incentivos parece ter dado resultados. Para alguns, pode ter ocorrido somente uma diferença na ordem de classificação, para outros pode ter sido fundamental para a aprovação.


A tabela está em números percentuais.
A primeira coluna é o ano; a segunda, os candidatos inscritos que cursaram o ensino médio em escola particular; e a terceira, os matriculados que cursaram o ensino médio em escola particular (ou seja, os que foram aprovados daqueles relacionados na primeira coluna).
1988
46,8
73,5
1989
51,3
74,3
1990
51,7
75,3
1991
49,5
75,5
1992
52,9
59,2
1993
55,1
75
1994
50,4
74,5
1995
50,1
75,6
1996
52,2
83,2
1997
56,7
80,3
1998
59,1
84,7
1999
60,9
80,8
2000
60,3
86
2001
58,4
84,8
2002
56,2
85,5
2003
56,1
81,6
2004
59,1
79,8
2005
59,5
81
2006
57,5
87,3
2007
62,5
79
2008
64,8
78,3
2009
66,9
70,1

Igualdade temporária

quarta-feira, 21 de outubro de 2009



O Brasil se viu numa situação em que foi necessária a abolição da escravatura. Objetos se tornaram seres humanos excluídos. Sem direitos políticos, sem posses, sem educação, um sem-número de sem(s). A situação que se seguiu ao fim da escravidão no Brasil não se endireitou até os dias de hoje, ao contrário, em grande parte se acentuaram os problemas. Como resolver essa questão? Nunca serão dadas condições mínimas de concorrência para estas pessoas (nesse nosso mundo globalizado capitalista)? Ou serão as práticas discriminatórias inclusivas a solução?

Têm-se uma questão de fundo muito importante que é a "inexistência de raças", para muitos, só há uma raça: a raça humana. Uma questão que envolve a legitimação de muitas teorias de exclusão: a história da Alemanha Nazista, o Apartheid sul-africano, a separação racial que havia na América (EUA). Essas teorias serviram para praticar os mais diversos crimes contra grupos de pessoas (tecnicamente falando, não eram crimes, pois eram institucionalizados), ou violências, abusos físicos e econômicos (e outros). Falseou-se a realidade para influenciar a coletividade para determinados fins (mas não vamos falar sobre isso). Se a questão é o problema da institucionalização das raças no Brasil, ou seja, oficialmente se está realizando uma separação das pessoas em nome de algo que talvez seja duvidoso cientificamente, qual seria a opção não segregadora racialmente? Pela cor da pele? Pela genealogia (depois de tantos anos)? A opção normalmente apresentada é também fruto de ficção, pelo menos no curto prazo: melhoria da educação básica, melhoria da saúde básica (infra-estrutura social), e outras como essas. Essas soluções tornam-se risíveis ao olharmos para os últimos anos: dez, vinte, trinta, quarenta, cinquenta anos de educação piorada constantemente e de saúde básica que não foi capaz de atender satisfatoriamente a população como um todo. Por que se deveria acreditar que isso mudará daqui pra frente. Quem faz esse tipo de proposta possui filhos em escolas públicas? Ou depende do SUS?

Parece-me que estatuto da igualdade racial deveria ser uma lei excepcional ou temporária. Com um marco final, ao menos, poderia-se trazer alguma condição de igualdade mínima há muito devida, e, atingido o seu objetivo, descartá-la do ordenamento jurídico, pelo seu caráter discriminatório. O fim de sua vigência poderia ser programado de acordo com alguns dados mínimos estatísticos, ou uma reavaliação periódica, ou até mesmo uma data final simplesmente. Sua ultratividade produziria resultados muito tempo após a sua saída do ordenamento.

Encerro com uma citação de Rui Barbosa: "A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam".
Pode-se usar esta citação tanto de maneira positiva: não permitir que mulheres carreguem peso da mesma forma que os homens, ou limitar o trabalho de crianças; quanto de maneira negativa: se há desigualdade entre os homens e alguns são inferiores, estes terão tratamento agravado.

Para não ser injusto, informo o contexto:
Em tão breve trajeto cada um há de acabar a sua tarefa. Com que elementos? Com os que herdou, e os que cria. Aqueles são a parte da natureza. Estes, a do trabalho.
A parte da natureza varia ao infinito. Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas às outras. Mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as gotas do mesmo fluido, os argueiros do mesmo pó, as raias do espectro de um só raio solar ou estelar. Tudo assim, desde os astros, no céu, até os micróbios no sangue, desde as nebulosas no espaço, até aos aljôfares do rocio na relva dos prados.
A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem.
Esta blasfêmia contra a razão e a fé, contra a civilização e a humanidade, é a filosofia da miséria, proclamada em nome dos direitos do trabalho; e, executada, não faria senão inaugurar, em vez da supremacia do trabalho, a organização da miséria.
Mas, se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança. Tal a missão do trabalho.

O país dos losers

sábado, 17 de outubro de 2009



Há aquela teoria de que no Brasil, trabalhar é uma coisa indigna, por isso, nossas elites são sempre mostradas fazendo NADA em novelas, filmes, livros. Essa teoria diz que esse comportamento é herança dos tempos escravagistas. Os Brancos, senhores de engenho, nobres não trabalhavam. Além de todas as outras variáveis, coeteris paribus, que contribuem para a fama de preguiçoso do brasileiro, há mais essa de achar que meter a mão na massa é coisa de sub-gente.
Não é isso que acontece em países anglo-saxões. Lá, trabalhar para enriquecer é sinal divino. Quem não é empreendedor é loser. Somos o país dos losers (ou loseres).

O negócio é trabalhar 10 horas por dia no chão da fábrica. Quê estudar o quê. Isso é coisa de vagabundo. São as horas extras, abrir a empresa (chegando antes do patrão), vender as férias, essas atitudes é que dignificam homem. Trabalhar, no Brasil, significa ser empregado (para a grande maioria das pessoas). Ceder a mais-valia com alegria é digno?

Trabalhar enobrece mesmo o homem?
É isso aí, trabalhar empobrece o homem.


SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Mária. A expansão do direito penal: aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais. Trad. Luiz Otávio de Oliveira Rocha. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2002.

Marx aumenta a criminalidade

quarta-feira, 14 de outubro de 2009



Dentre as várias razões para o aumento dos tipos penais estão a mídia e as teorias deterministas.

Com o aumento das condutas consideradas crimes, maior quantidade de situações passa a ser proibida, portanto um maior número de pessoas pode vir a ser enquadrada. Em outras palavras com mais tipos penais, o que certamente se consegue são mais criminosos.

Jesús-María Silva Sánchez diz que a divulgação dos crimes pelos meios de comunicação causa um temor social, uma sensibilidade exacerbada ao risco, que leva ao desejo de utilizar o Direito Penal como solução para a sensação de insegurança (ao invés de se buscar um direito de polícia que seja eficaz). As próprias instituições de repressão colaboram para esse aumento da sensação de insegurança (de várias maneiras).

Além disso, segundo Sánchez, algumas doutrinas do Direito Penal imputam a culpabilidade do delito a uma catástrofe social. O responsável já não seria uma pessoa: “ninguém é responsável”. Há a responsabilização não de uma pessoa, mas da natureza, ou do meio social. Tais doutrinas sofrem influencias das teses deterministas, como o marxismo. Atualmente, como consequência, surge uma expansão da imputabilidade, é a necessidade de se culpar alguém pelas catástrofes sociais, aumentando o número de pessoas elegíveis como objeto das penas.

Enfim, há uma grande lógica na argumentação de Sánchez, mas eu fico imaginando o nosso criminoso da favela pensando na exploração da mais-valia, na possibilidade da evolução dialética do capitalismo, na sua exclusão estabelecida pela sociedade de consumo, e, após matutar sobre isso, chega à conclusão de que ninguém é culpado pelos seus roubos: a culpa é do sistema.


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As aventuras do advogado depramável

quinta-feira, 8 de outubro de 2009



Esse nosso personagem é velho conhecido.
Quando eu disse que ele existe, não estava sendo retórico. Eu o conheço e o descrevi.

Nos encontramos de novo. Não esperava essa honra, só que desta vez, não eram leigos que estavam do outro lado. Eram 3 advogadas.
Ele começou elogiando a elegância delas. Foi nesse momento que reparei melhor nas moças. A conversa entre ele e elas versava sobre os olhos claros das três e a beleza delas. Sim, eram bonitas e usavam pastas à la Cesar (LV). Dessa vez, nem passou pela cabeça dele tentar se impor pelo grito, pela pressão, pelas suas invenções.
Resumo: ele parecia um ser humano normal, educado, bem-comportado, falando baixo, não inventou nada e quase não disse bobagens. Uma moça! Mais uma moça! Só que essa não era bonita e sua roupa estava mais pra 25 de Março.

Ser Depramável...

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Roupa anticorrupção

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A sociedade capitalista industrial era, para Marx, uma sociedade de produtores. A divisão social do trabalho podia ser traduzida por produção social da vida. As pessoas se utilizavam de bens produzidas por outras, num encadeamento que determinava o todo social.

Zygmunt Bauman analisa o atual ambiente humano como uma sociedade de consumidores, uma transformação daquela sociedade de produtores. Todos devem se ajustar e encontrar o seu lugar  de acordo com o seu consumo: o que consomem, o quanto consomem, quando consomem, porque consomem, etc.

Como uma ilustração dessa sociedade, vemos a notícia de que estilistas criam roupas antifurto. A preocupação primordial nessa sociedade de consumidores é a identificação e repressão dos que não consomem: os furtadores, os roubadores e os receptadores.

Procuro estilistas que criem roupas, acessórios e móveis que sejam anticorrupção, anti-nepotismo e principalmente antidepramáveis.

 
Anti-depramável - Templates para novo blogger